Maternidade no Exterior e Saúde Mental: Como Reconhecer e Tratar a Depressão Pós-Parto

Imagine: você acabou de ter seu bebê em outro país. O quarto está silencioso, não há visitas da família, a avó não pode ajudar, e os amigos estão a milhares de quilômetros. Você segura o recém-nascido nos braços e pensa que deveria estar feliz. Mas não está.

Essa é a realidade de muitas mães brasileiras no exterior. A depressão pós-parto (DPP) é um desafio comum em qualquer parte do mundo, mas fora do Brasil pode ser ainda mais dura, por conta do isolamento, da falta de rede de apoio e das barreiras culturais.

📊 O que dizem os dados

  • Globalmente, estima-se que entre 1 em cada 6 a 1 em cada 7 mulheres apresentem sintomas de depressão no primeiro ano após o parto (Woody et al., 2017).

  • No Brasil, pesquisas apontam índices ainda maiores. Em um estudo de base populacional, 38,8% das mães apresentaram sintomas compatíveis com depressão pós-parto quando avaliadas pela Escala de Edinburgh (EPDS) (Galletta et al., 2021). Outros levantamentos nacionais variam entre 25% e 38%, dependendo da região e dos critérios utilizados.

  • Imigrantes e expatriadas apresentam risco aumentado. Fatores associados incluem: pouco tempo de residência no país, isolamento social, renda limitada, barreiras de idioma e dificuldades no relacionamento conjugal (O’Mahony et al., 2013).

👉 Em resumo: estar fora do Brasil pode aumentar a vulnerabilidade. E isso não é culpa da mãe. É contexto.

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⚠️ Sinais de alerta

  • Tristeza intensa e persistente

  • Sensação de vazio ou culpa constante

  • Dificuldade em se conectar ao bebê

  • Perda de prazer em atividades que antes faziam bem

  • Distúrbios de sono e apetite além do esperado no puerpério

  • Pensamentos de machucar-se ou de que o bebê estaria melhor sem você

🚨 Atenção: Se houver risco imediato ou ideação suicida, procure ajuda de emergência no país onde você está ou ligue para o CVV (188 no Brasil, 24h em português, gratuito).

🌍 Por que pode ser mais difícil fora do Brasil

  • Rede de apoio reduzida: sem avós, tias ou vizinhos, o cuidado recai quase todo sobre a mãe.

  • Barreiras de idioma: explicar sofrimento emocional em outra língua pode ser frustrante.

  • Diferenças culturais: em alguns países falar sobre saúde mental ainda é tabu; em outros, a maternidade é vista como mais solitária.

  • Desconhecimento do sistema de saúde: seguros, direitos e serviços variam muito.

💡 Caminhos que ajudam

  1. Profissionais especializados

    • Psicólogos/psiquiatras que entendam maternidade e interculturalidade.

    • Telemedicina com profissionais brasileiros pode ser uma opção.

  2. Grupos de apoio

    • Redes de mães expatriadas (online ou presenciais).

    • Compartilhar experiências reduz a sensação de isolamento.

  3. Ferramentas de triagem

    • A Escala de Edinburgh (EPDS) é usada no mundo todo. Pergunte ao pediatra ou obstetra local.

  4. Cuidar do básico

    • Dormir quando possível, dividir tarefas, aceitar ajuda.

    • Atividade física leve, se liberada pelo médico, pode ajudar no humor.

    • Alimentação balanceada, hidratação e pequenos momentos de autocuidado são aliados.

🔗 Recursos confiáveis

  • CVV – Centro de Valorização da Vida: 188 (telefone 24h em português, gratuito, também via chat em cvv.org.br)

  • Postpartum Support International: materiais em várias línguas + linha de apoio global (postpartum.net)

  • Consulados brasileiros: orientações sobre saúde e emergências (Itamaraty)

  • OMS – Saúde Mental Materna: dados e diretrizes globais (WHO)

📌 Você não está sozinha

Ser mãe fora do Brasil é uma experiência cheia de contrastes: liberdade e solidão, conquista e vulnerabilidade.

A depressão pós-parto não define quem você é, nem significa falta de amor pelo seu bebê.

👉 Visite nosso [Diretório de Psicólogos Interculturais pelo Mundo] e encontre profissionais que falam português e compreendem os desafios de maternar longe da sua terra natal.

Buscar ajuda é um gesto de amor — por você e pelo seu filho.



Jessica Gabrielzyk

Como autora brasileira especializada em vida de expatriados, escrevi “Maternidade no Exterior”, “Criando Filhos no Exterior” e “Mudando para o Exterior” para ajudar famílias a enfrentar os desafios de se realocar internacionalmente. Meu objetivo é capacitar outras pessoas a abraçarem suas novas aventuras com confiança e tranquilidade.

https://www.jessicagabrielzyk.com/pt/home
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