Psicoterapia Intercultural: um olhar sensível para quem vive entre culturas
Quando falamos sobre adaptação emocional fora do país, poucas pessoas conhecem o valor da psicoterapia intercultural.
Para explicar como esse tipo de cuidado pode transformar a experiência de quem vive entre culturas — especialmente mães, pais e famílias em transição —, convidei a psicóloga e coach intercultural Argentina Simões.
Com atuação bilíngue (português e inglês), Argentina é especialista em saúde emocional, desenvolvimento humano e interculturalidade. Ela também integra a diretoria da SIETAR, uma das maiores redes internacionais voltadas à educação intercultural.
Viver fora do país é uma experiência que transforma profundamente. Amplia horizontes, cria oportunidades e desperta novas perspectivas, mas também desafia nossa identidade, nossos vínculos e até o modo como lidamos com as emoções. Em meio às adaptações culturais, à distância de pessoas queridas e às novas formas de pensar e se relacionar, muitas pessoas começam a buscar apoio psicológico. É nesse contexto que a psicoterapia intercultural se torna um espaço de escuta e acolhimento especialmente sensível às vivências migratórias.
O que é psicoterapia intercultural?
A psicoterapia intercultural é uma abordagem que reconhece que nossa cultura, o lugar onde nascemos, os valores que aprendemos e as experiências que vivemos, influencia diretamente a forma como pensamos, sentimos e reagimos ao mundo. Cada pessoa carrega uma bagagem cultural única, e com mudanças, essa bagagem entra em contato com novas referências, o que pode gerar tanto crescimento quanto desconforto. Mais do que lidar com sintomas emocionais, a psicoterapia intercultural busca compreender o sujeito no seu contexto, suas crenças, idioma, valores e experiências. Ela considera o impacto das diferenças culturais na construção da identidade e nas relações, e ajuda o indivíduo a integrar essas dimensões de forma saudável. Na prática, une os fundamentos da psicologia clínica ao entendimento das questões culturais, identitárias e emocionais que emergem em processos de migração, expatriação, refúgio ou vida globalizada.
Por que buscar esse tipo de terapia?
Ao vivermos em outra cultura, é comum passarmos por sentimentos de solidão, saudade, ansiedade, desmotivação ou até perda de sentido. Essas reações são naturais, mas, quando persistem, podem afetar o bem-estar emocional. A psicoterapia intercultural oferece um espaço seguro para refletir sobre desafios e descobertas vividas em contextos multiculturais, como adaptação, comunicação, pertencimento e reconstrução de referências pessoais e profissionais.
Para além do acompanhamento de questões emocionais, comportamentais e relacionais que fazem parte da prática clínica, ela pode ajudar em diferentes momentos: durante o processo de mudança de país, na adaptação a um novo idioma ou ambiente de trabalho, na criação de filhos em contextos multiculturais, ou quando surge o sentimento de não se encaixar completamente em nenhum lugar. Também é útil para quem convive ou trabalha em ambientes diversos culturalmente e deseja desenvolver maior sensibilidade e empatia intercultural.
Entre os benefícios possíveis estão:
Elaborar o luto migratório, relacionado às perdas de vínculos, língua, rotina, status e até parte da identidade;
Trabalhar choques culturais e dificuldades de adaptação;
Reconciliar identidades múltiplas e sentimentos de viver “entre mundos”;
Reduzir o estresse aculturativo e fortalecer o senso de pertencimento;
Desenvolver autoconhecimento, resiliência e empatia em contextos diversos.
Como Funciona?
Os atendimentos são conduzidos por profissionais especializados em psicologia intercultural, capacitados para compreender as nuances das experiências entre culturas. As sessões podem acontecer presencialmente ou por videochamada, em plataformas seguras e confidenciais, permitindo que pessoas em diferentes países recebam acompanhamento psicológico com continuidade e qualidade.
A modalidade online tem se mostrado uma excelente alternativa para quem busca flexibilidade e acesso a profissionais que compreendem o contexto de vida global, que falam o mesmo idioma ou que oferecem espaço para se expressar em mais de uma língua.
Para facilitar o acesso, muitos profissionais aceitam pagamentos em diferentes moedas, por meio de transferências locais, internacionais, plataformas como Wise ou cartão de crédito via Stripe, tornando o processo mais simples e adaptado à realidade de quem vive fora.
Além da psicoterapia, a abordagem intercultural também pode incluir outras formas de acompanhamento voltadas ao desenvolvimento humano e à promoção da saúde emocional em contextos multiculturais, como processos de coaching, grupos de apoio, treinamentos e palestras sobre adaptação, comunicação e bem-estar intercultural.
A terapia intercultural é, antes de tudo, um convite à integração. É o espaço onde a pessoa pode se permitir ser quem é, com suas origens, suas experiências e suas transformações, construindo uma identidade mais coerente, saudável e autêntica em meio às diferentes culturas que fazem parte de sua história.
Cada trajetória migratória é única, e cada processo terapêutico também. Encontrar um profissional que compreende as nuances da vida entre culturas pode ser o primeiro passo para viver essa jornada com mais consciência, acolhimento e equilíbrio emocional.
Texto escrito por Argentina Simões – Psicóloga e Coach intercultural. Atua em português e em inglês com psicoterapia, coaching e facilitação sobre temas relacionados ao desenvolvimento humano, saúde emocional e interculturalidade.
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