Amamentar em Outra Cultura: O Relato de Uma Mãe Brasileira na Índia

Cristiane Scheid é uma mãe brasileira que viveu por quase três anos na Índia. Durante esse período, amamentar em público chamou sua atenção — algo tão comum no Brasil, mas pouco visto nos lugares por onde passava lá.

“Em todo o tempo que morei lá, nunca vi outra mulher amamentando em público.”

A Índia, com toda sua riqueza espiritual e diversidade cultural, também carrega códigos sociais muito distintos dos brasileiros — especialmente em relação ao corpo feminino. Embora a amamentação seja valorizada, ela acontece majoritariamente em espaços privados, longe dos olhares públicos.

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Mesmo diante dos olhares — alguns curiosos, outros julgadores — Cris seguiu. Amamentou no silêncio, muitas vezes na solidão. Como tantas mães migrantes, viveu o conflito entre seguir seu instinto e respeitar normas não ditas de um país que ainda não era seu. Nunca entendeu ao certo o que significavam aqueles olhares, mas lembra da constante sensação de estar ocupando um espaço que não era dela.

Amamentar, naquele contexto, foi também um gesto de resistência sutil.

Se você já passou por algo parecido — ou está vivendo a maternidade longe de casa — talvez se reconheça nas páginas do livro “Maternidade no Exterior”. Um espaço de escuta, cuidado e partilha para quem atravessa essa jornada entre culturas.

A amamentação na Índia é vista como parte fundamental do cuidado infantil, mas permanece envolta em tabus sociais — principalmente fora dos grandes centros urbanos. Nas cidades maiores, há avanços e espaços amigáveis surgindo, mas para muitas mulheres, especialmente estrangeiras, amamentar em público continua sendo um desafio. O obstáculo é cultural, mas também emocional. Lidar com os olhares, com o medo de ofender e com a ausência de rede de apoio intensifica o peso da jornada.

O que Cris viveu na Índia ecoa experiências de mães migrantes em muitos outros lugares do mundo. Mesmo em países com políticas públicas favoráveis à amamentação, o sentimento de deslocamento persiste. Às vezes, o que está em jogo não é só o leite que alimenta, mas o pertencimento que sustenta.

O relato de Cris revela algo profundo que muitas mães expatriadas conhecem bem: a exaustão de maternar longe de casa, longe das referências culturais que tornam certos gestos mais leves. O medo de não estar fazendo certo, o receio de ser julgada, o esforço constante de traduzir seu jeito de amar em outro idioma, outra cultura, outro ritmo.

Maternar em outra cultura é também aprender a traduzir o amor. E às vezes, encontrar um lugar para ele no silêncio.

A história de Cris não é única, mas raramente é contada. Porque o mundo ainda escuta pouco as mães que atravessam fronteiras. Porque os detalhes do cotidiano, como onde e como amamentar, dizem muito sobre como uma mulher se sente acolhida ou invisível em sua nova terra.

Não há um jeito certo de maternar fora do Brasil. O que existem são camadas sobrepostas de afeto, cultura, saudade e resistência. Cada mulher vai, aos poucos, encontrando seu próprio equilíbrio entre adaptação e verdade.

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E às vezes, como no caso de Cris, esse equilíbrio começa por algo tão íntimo quanto transformador: continuar amamentando.

Se você também já viveu algo assim — na Índia, em outro país ou mesmo dentro do Brasil, como mãe imigrante, refugiada ou em trânsito — sua história importa.

Você pode compartilhar seu relato, poesia, crônica ou reflexão com a gente, em texto, áudio ou vídeo. Pode ser publicado com seu nome ou de forma anônima.

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Aqui, sua experiência é bem-vinda. E sua voz tem espaço.



Jessica Gabrielzyk

Como autora brasileira especializada em vida de expatriados, escrevi “Maternidade no Exterior”, “Criando Filhos no Exterior” e “Mudando para o Exterior” para ajudar famílias a enfrentar os desafios de se realocar internacionalmente. Meu objetivo é capacitar outras pessoas a abraçarem suas novas aventuras com confiança e tranquilidade.

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